27.12.08

Tema do Poema




#
"..........................................................
mas a poesia acontece na línguagem,
porque esta guarda essencia original da Poesia.."
Martin Heidegger,
Origem da Obra de Arte

Ou o tema do Poema
onde a vaca caminha
e bode verseja
seu cheiro de estrume
que invade a pena
e fica o poema
que não é poema.


Ou feito à pena,
 
digito.

"ritimos em ema
e rema ou Nada, 
o tudo-nada.
Afoga,
O Poema, do papel e da Vaca
pequena sim, 

a rima, a forma ou
SEUS PROBLEMAS"

e que autoriza o Poeta.
(signo)
DO papel 

OU vaca 
e pena.

26.12.08

Ezra Pound e Pasolini







Os senhores Ezra Pound e Pasolini: recordem a frase do segundo sobre a verdade... 

“E, em tua mente, beleza, / Ó Artêmes.”

Os Cantos, CXIII, Trad. JLG

14.12.08

beirut - elephant gun + rilk




#
I, 22



A nós, nos cabe andar.
Mas o tempo, os seus passos,
são mínimos pedaços
do que há de ficar.

É perda pura
tudo o que é pressa;
só nos interessa
o que sempre dura.

Jovem, não há virtude na velocidade
e no vôo, aonde for.

Tudo é quietude:
escuro e claridade,
livro e flor. 

28.11.08

Voz, Augusto Frederico Schimidt

Deus apagará tua voz
Deus apagará todas as vozes
As da natureza e as do amor
As dos tristes e dos monges
As que clamam no silencio
E as que se elevam majestosas
As que choram e as que acordam os males
As feiticeiras caminharam nas ruas velhas
Os teus pés nus pisaram a areia branca da praia
Tua voz porém morrerá de súbito
O orvalho não molhará as rosas abertas
Canta agora que tua voz está viva!
Canta porque tua voz se apagará!

16.11.08


Vigilância, Mar Absoluto

A estrela que nasceu trouxe um presságio triste; 
inclinou-se o meu rosto e chorou minha fronte:
que é dos barcos do meu horizonte?

Se eu dormir, aonde irão esses errantes barcos,
dentro dos quais o destino carrega
almas de angústia demorada e cega?

E como adormecer nesta Ilha em sobressalto,
se o perigo do mar no meu sangue se agita,
e eu sou, por quem navega, a eternamente aflita?

E que Deus me dará força tão poderosa
para assim resistir toda a vida desperta
e com os deuses conter a tempestade certa?

A estrela que nasceu tinha tanta beleza
que voluntariamente a elegeu minha sorte.
Mas a beleza é o outro perfil do sofrimento,
e só merece a vida o que é senhor da morte.

3.11.08

Liz Novais

É como dizer Liz
E toda sua asperidade
Ou calar-se rumo ao cacto
que alimenta comunidades.


E não termina
E recomeça
E é como Liz,
incontida, latejante
cheia de cheiros e cachos
desamores & fracassos...
E não responde a pudores
E é Liz.
Sim, é Liz.


Excesso - forma de dados e pontos
negros,
branquissíma como neve,
& leve - naquele modo de ser sempre Palco.


Liz,
caríssimos: seus acessos de lucidez
& loucura e aridez.
Turbilhão de Cactos e Amoras.
Bode que persegue Lima Barreto
Touro que acossa Hemingway
ou Amarante: ritmo nos versos vacilantes.


E é fêmea:
É ela.

29.10.08

Salve Valécia Ribeiro!



4.10.08

Grita não! Grita não!


Tomaž Šalamun

Que estás aqui é importante (*i. e., só importa é que estás aqui).
Tudo o mais, tua carne branca ou preta,
Estares deitada ferida com temores
Não traz sossego à minha mente.
Os cortes de chicote são importantes
Doces frágies cavidadedes do coração.

E se te puxo as mãos como as do morto Heitor
e tu me dizes "basta", estás louca.
subimos as escadas para irmos ao cinema,
a minha língua estalo, pensando em como hei
de espichar-te outra vez neste grosso tapete

arrastar-te para a macia e esférica relva,
sentindo ainda o doce odor de teus cabelos suarentos.

*por minha conta.

Trad. Luiz Angélico da Costa

30.9.08

Recital (mais) Exposição Corpo e Tempo


“Corpo e Tempo”, “Tempo e corpo”, o “Corpo”, o “Tempo”: são palavras muito antigas escolhidas como tema para a exposição dos trabalhos realizados na Oficina do Museu Rodin da Bahia, sob a égide – sem exagero algum – da Educadora Valécia Ribeiro. Tanto quanto antigas estas palavras são sobretudo originais, na medida que são, enquanto palavras, atualizadas pela própria existência do Homem-no-Mundo e do Mundo-no-Homem.

Com efeito, talvez sejam alí mesmo, anteriores aos mitos de Kronós e Criação – Teogonia – uma vez que tudo ocorre e decorre independente dessa necessidade do Homem de dar Nomes às coisas e conceituar bem como fazer Filosofias... (Embora tudo comece qdo é dito o fiat, qdo a palavra é dita).

Ora, dizer Tempo é atualizar na historicidade e História do Homem-no-Mundo a essência de sua vivencia que no Tempo mesmo o Homem inventa em sua espacialidade e caminho.
Sendo o corpo a primeira experiência humana em qual momento desse mesmo experienciar-a-si-mesmo , consciente de sua existência, o Homem acena para o sentido profundo de Tempo? “Por conseguinte, o que é o Tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; porém, se quero explica-lo a quem me pergunta, então não sei...” Santo Agostinho, Confissões, XI, 14, pág. 338. ed. Paulus.

Alías, não havendo Tempo senão pelo envelhecer e perecer das coisas e não como realidade palpável em si mesmo, onde o Homem inquieto de sua espacialidade Limitada e Limitante, alcança Tempo e Fluir, por isso e para isso, encarnado no Mundo? 

Para além da subjetividade de cada Tempo e em cada individuo e para todo Eterno que o Homem delimita para não enlouquecer que o Fazer artístico pelo modo de dialogar com o futuro pelo presente cristaliza e territorializa, pela urgência do Novo e porque nascer e morrer não deve finalizar sua existência – do artista, obviamente – sedenta do não visto.

O Tempo da arte deve ser o não-haver-tempo no corte colorido ou não que o Fazer do artista produz. E há a Beleza (ομορφιά) que não sabemos o que é uma vez que: “... a beleza é uma coisa terrível e espantosa. Terrível porque indefinível e não se pode defini-la porque Deus só criou enigmas...” Dostoievski (1821-1881), Irmão Karamazovi, pág. 94. Ed. Nova Cultural.

Houve o Tempo de aprender sob a Luz de Valécia Ribeiro como houve o Tempo para ela aprender pelo Mundo e nessa tessitura de saberes, na esteira do amor e da Curiosidade, que fora re-afirmada Luz em oposição às trevas, – ignorância, a saber – e agora compreendido, com a consciência de que tudo é Processo, encerra.

25.9.08

Introído de como dizer Letícia.

Letícia é meu Poema interminavel: onde repouso pela idéia como os que deitam o rosto na aréia da praia para dalí deixar sua máscara. Máscara onde vêm guardas-chuvas é Leticia para mim: um modo de oração silenciosa e prece para tornar-me mais Humano. Um porto de eterna chegada, sorriso e jardim. Signo que dança e dança e dança e é Fluxo.

Fixa-se onde mora a Beleza na minha cabeça essa tal Letícia,
minha alegria original.

18.9.08

Recados


Oi gente, Boas notícias, confirmei hoje com o Palacete da Artes a data da nossa exposição: 27 de setembro (sábado), na área externa do Museu. Estou encaminhando o arquivo com os títulos e textos que vocês me enviaram para confirmação, dêem uma olhada para ver se está tudo certo, os que ainda não enviaram, peço que por favor me mandem até sexta (12.09), bem como aqueles que queiram fazer alguma alteração. Aproveito para mandar as poesias do Recital, por enquanto só Avany e Gilson, espero que os outros se animem!!! Pelo que conversamos no dia da visita ao meu ateliê, e também por sugestão da Larissa, em função dos temas que foram mais trabalhados na oficina, estava pensando em " O Corpo e o Tempo" como título da exposição. O que vocês acham? um abraço,

Valécia Ribeiro

16.9.08

imagem com carroça e outras frutas

Brasília, 15/IX/08

a imagem,
da carroça 
com maçãs
e desce de 
meias Gaze
a moça pele 
romã

apressada 
corre para
o Leste
e retorna 
molhada:
quem na 
chuva
não 
padece?

e volta ao início 
maçãs para praça 
e para feira :(para 
ela as maças 
da espera)

e tem pejo
e retorna
sua imagem 
com carroças 

9.9.08

rilke, depois





#
Brasília/Salvador - 13/IX/08


de olhar tenso
meditando 

o futuro
(ruínas)

átomos sobre átomos sobre átomos
então
______átomos e átomos,
desato.

e com seu Stundenbuch
_____cc contempla
o que contempla

de volta 

(praga)
e jardins amarelos
catedrais
ou castelos

átomos sobre átomos sobre átomos

( homens-doentes,
ou robôs-de-plástico ditando
homens-de-plástico)

e seu Livro-das-Horas,
medita

átomos sobre átomos sobre átomos.

16.8.08

Observações ou ainda Recado aos Passantes

Com efeito, os pincéis, as cores e a criatividade estão nessa ordem e por essa ordem de todo subordinados ao que de “poético” meu caminho por esta arte pretenda.

Poético aqui é, a fortiriori, um modo imanente e transcendente que só realiza-se no momento do “transbordamento” do sujeito que interrogante, coloca a questão pela Beleza do “sentido do estar no mundo” e do sentido do “dar” sentido ao Mundo nesse mesmo estar.


Não há resposta satisfatória no executar os trabalhos porque, de fato, esse Trabalhar, alimenta-se, antes, pelo próprio élan proposto do colocar-se no caminho. O "caminho" que empreende o "caminhante-do-caminho" e que jamais é “final” senão "fim” naquele sentido do “meio” numa palavra.

Nas cores desse álbum (universo – mencionado no primeiro parágrafo) e nas formas, há de algum modo, uma polifonia e uma polimorfia que jamais são colocados de modo Pancalista. 



A expressão na pintura, pela poética que seu executar propõe quer sobretudo caminhar pela cor e com a cor para o colorido mesmo que a imagem, numa gramática ou alquimia visual, direciona, nesse estar objetivo/subjetivo e também por impressões: De um Universo particular.
De modo que cada cor, à maneira da Voz, ergue-se a expressar um sentido tão Outro que somente para idéia e na idéia encontram seu correspondente bem como pela forma dá-se a confirmação do anseio daquela cor ainda do outrora mencionado Catalogo de um Universo Particular.

7.6.08

O Mundo - Ney Matogrosso e Pedro Luis e a Parede. Comp.: André Abujamra

13.5.08

Paul Celan



Corona, Paul Celan


Da mão o outono me come sua folha: somos amigos.
Descascamos o tempo das nozes e o ensinamos a andar:
o tempo retorna à casca.

No espelho é domingo,
no sonho se dorme,
a boca não mente.

Meu olho desce ao sexo da amada:
olhamo-nos,
dizemo-nos o obscuro,
amamo-nos como ópio e memória,
dormimos como vinho nas conchas,
como o mar no raio sangrento da lua.

Entrelaçados à janela, olham-nos da rua:
já é tempo de saber!
Tempo da pedra dispor-se a florescer,
de um coração palpitar pelo inquieto,

É tempo do tempo ser.. É tempo

12.5.08

Inédito?



Canto LXXIII

E poi dormii
E svegliandomi nell'aere perso
Vidi e sentii,
E quel ch'io vidi mi pareva andar a cavallo,
E sentii:
«A me non fa gioia
Che la mia stirpe muoia
infangata della vergogna
Governata dalla carogna
e spergiurata.
Roosevelt, Churchill ed Eden
& vervolgens sliep ik
Ontwakend in de verloren lucht
Zag & gevoelde ik
& wat ik zag scheen te paard te stijgen,
& ik hoorde:
«Het verheugt mij niet
Dat mijn geslacht op sterven ligt
bevlekt met schaamte
Door liederlike luyden beheerst
& meinedig.
Roosevelt, Churchill & Eden
bastardi ed ebreucci
Lurchi e bugiardi tutti
e il popolo spremuto in tutto
ed idiota!
Morte che fui a Sarzana
aspetto la diana
della riscossa.
Sono quel Guido che amasti
pel mio spirito altiero
E la chiarezza del mio intendimento.
De la Ciprigna sfera
Conobbi il fulgore
gią cavalcante
(mai postiglione)
Per le vie del Borgo
detto altramente
La cittą dolente
(Firenze)
sempre divisa,
Gente stizzosa e leggiera
che razza di schiavi!
Passai per Arimnio
ed incontrai
uno spirito gagliardo
Che cantava come incantata
di gioia!
Era una contadinella
Un po' tozza ma bella
batards & petits Juifs
Tous avides & menteurs
& le peuple épuisé en toutes choses & idiot!
Je fus mort ą Sarzana
j'attend la diane
de la rescousse.
Je suis le Guido que tu aimas
pour mon esprit fičre
& la clarté de mon entendement.
De la sphčre de Chypre
Je connus la splendeur
déją gallopante
(jamais postillon)
Le long les voies du Bourg
autrement ditLa ville douloureuse
(Florence)
toujours divisée,
Des gens colčreux & légers
sale race!
Je passai par Arimnio
& je rencontrai
un esprit vaillant
Qui chantait comme enchanté
de joie!
Une petite paysanne
Un peu ronde mais belle
ch' aveva a braccio due tedeschi
E cantava,
cantava amore
senz' aver bisogno
d'andar in cielo.
Aveva condotto i canadesi
su un campo di mine
Dove era il Tempio della bella Ixotta.
Camminavano in quattro o in cinque
ed io ero ghiotto
d'amore ancora
malgrado i miei anni.
Cosi sono le ragazze
nella Romagna.
Venivan' canadesi
a 'spurgnar' i tedeschi,
A rovinar' quel che rimaneva
della cittą di Rimini;
Domandarono la strada
per la Via Emi1ia
a una ragazza,
una ragazza stuprata
Po' prima da lor canaglia.
- Be'! Be'! soldati! .
Quest' č la strada.
Andiamo, andiamo
a Via Emilia! -
qui tenait deux allemands par les bras
& chantait,
chantait l'amour
sans se soucier
de monter au ciel.
Elle avait conduit les canadiens
sur un champ miné
Lą oł il y avait le Temple
de la belle Isotta
.Ils marchaient par quatre ou cinq
& j'étais folle
d'amour encore & encore
malgré mes années.
Les filles sont ainsi
dans la Romagne.
Il venait des canadiens
pour 'triompher' des allemands,
A ruļner les restes
de la ville de Rimini;
Ils demandaient le chemin
pour la Via Emilia
ą une demoiselle,
une demoiselle violée
Juste avant par la canaille
- Bon! Bon! soldats!
Celle-lą est la rue.
Allons, allon s
ą la Via Emilia! - Con loro proseguiva.
Il suo fratello aveva scavatoI buchi per le mine,
lą verso il mare.
Verso il mare la ragazza,
un po' tozza ma belle,
Condusse la truppa.
Che brava pupa! che brava pupetta!
Lei dava un vezzo
per puro amore,
che eroina!
Sfidava la morte,
Conquisto la sorte
peregrina.
Tozza un po' ma non troppo
raggiunse lo scopo.
Che splendore!All' inferno '1 nemico,
furon venti morti,
Morta la ragazza
fra quella canaglia,
Salvi i prigionieri.
Gagliardo lo spirito
della pupetta
Cantava, cantava
incantata di gioia,
Or' ora per la strada
che va verso 'l mare.
& avec eux elle avanēait.
Son frčre avait creusé
Les trous pour les mines,
lą bas vers la mer.
Vers la mer la demoiselle,
un peu ronde mais belle,
Conduisit la troupe.

La brave poupée,
quelle héroine!
Elle défiait la mort,
Elle conquit le sort
pélerin.
Rondelette un peu mais pas trop
elle atteignit le but.
Quelle splendeur!A l'enfers l'enemi,
il y eut vingt morts,
Morte la fille
parmi la canaille,
Sauvés les prisonniers.
Vaillant l'esprit
de la fillette Qui chantait,
chantait
enchantée de joie,
A l'instant mźme sur la route
qui mčne ą la mer.
Gloria della patria!
Gloria! gloriaMorir per la patria
nella Romagna!
Morti non morti son',
lo tornato son'
dal terzo cielo
per veder la Romagna,
Per veder' le montagne
nella riscossa,
Che bell' inverno!
Nel settentrion rinasce la patria
,Ma che ragazza!
che ragazze,
che ragazzi,
portan' il nero!
Gloire de la patrie! Gloire! gloire
Mourir pour la patrie
dans la Romagne!
Morts, ils ne sont pas morts,
Moi je suis revenu
du troisičme ciel
pour revoir la Romagne,
Pour revoir les montagnes
ą la
rescousse,
Que c'est beau l'hiver!
Au septentrion
renait la patrie,
Mais quelle fille!
quelles filles,
quels
garēons,
portent le noir