Manhã de nevoeiro. O pescador levanta-se da esteira, olha pela fresta da casa o espaço branco e diz para a mulher. Hoje, não vou ao mar, com uma névoa assim até os peixes se perdem debaixo de água. Disse-o este, e, por iguais ou parecidas palavras, também o disseram os mais pescadores todos, duma margem e da outra, perplexos pela extraordinária novidade de um nevoeiro impróprio da época do ano em que estamos. Só um, que pescador de ofício não é, ainda que com os pescadores seja o seu viver e trabalhar, assoma a porta da casa como para certificar-se, diz para dentro, Vou ao mar. Por trás do seu ombro, Maria de Magdalena pergunta, Tens de ir, Jesus respondeu, Já era tempo, Não comes, Os olhos estão em jejum quando se abrem de manhã. Abraçou-a e disse, Enfim, vou saber quem sou e para o que sirvo, depois, com uma incrível segurança, pois o nevoeiro não deixava ver nem os próprios pés, desceu o declive que levava à água, entrou numa das barcas que ali se encontravam amarradas e começou a remar para o invisível que era o centro do mar.
29.3.12
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