3.6.12

Evocar Emmanuel Levinas

O amor visa outrem, visa-o na sua fraqueza. A fraqueza não representa aqui o grau inferior de um qualquer atributo, a insuficiência relativa de uma determinação comum a mim e ao Outro. Anterior à manifestação dos atributos, ela qualifica a própria alteridade. Amar é temer por outrem, levar ajuda à sua fraqueza. Nessa fraqueza, como na aurora, se levanta o Amado que é Amada. Epifania do Amado, o feminino não vem juntar-se ao objeto e ao Tu, previamente dados ou encontrados no neutro, o único genero conhecido pela lógica formal. A epifania da Amada faz um só com o seu regime de ternura. A maneira da ternura consiste numa fragilidade extrema, numa total vulnerabilidade. Manifesta-se no limite do ser e do não ser, como um doce calor em que o ser se dissipa irradiando, como o "encarnado leve" das ninfas no Après-midi d'un faune que "adeja no ar entorpecido de sonos espessos", que se desindividua e se liberta do seu próprio peso de ser, já evanescência e delíquio, fuga em si no próprio seio da sua manifestação. E nessa fuga o Outro é Outro, estranho ao mundo, demasiado grosseiro e ofensivo para ele.

Totalidade e Infinito, Secção IV (Para além do Rosto) Fenomenologia do Eros.