24.12.11

como quando vi 
pela terceira vez o mar
ou aviões num porto de brasília
das águas do mar em brasília
diziam exatamente o estado de
espírito a ser apreendido:
um gato preto na metáfora do 
guimarães rosa (por exemplo),
é escuro e não está lá
(no entanto)
o mar é visto do quarto escuro
ou aviões que boiam no mar-ar
e quando você faz a volta
ou quando a janela vista de cima
esta embaçada
tudo lhe parece um pouco mais
nítido.

15.12.11

Dois parágrafos de um longo estudo sobre a arte do Fiódor Mikháilovich Dostoiévski (1821-1881) tratando dos aspectos centrais na obra desse Homem inspirado pelo Transcendente ( Deus, a saber)


Todos os romances de Dostoiévski versam sobre a relação do homem com Deus. Em Crime e Castigo, o tema principal é o mistério da ressurreição de um homem morto pelo pecado; em O idiota, é o mistério da natureza divina de Cristo como condição única e necessária de sua missão salvadora (nem o homem mais "positivamente belo" tem a condição de tornar-se salvador para os próximos); e Os demônios, é o mistério da Encarnação da Palavra -- é verdade que esse permaneceu basicamente nos manuscritos preparatórios do romance --, porque o texto principal manisfestou-se no tema da essência funesta da impostura e da substituição da verdade divina por uma "teoria" terrena qualquer; em O adolescente, segundo precisa observação de T. A. Kassáktina, trata-se das relações filias do homem com o Pai: da dependência servil em face do mais sórdido símbolo material da ligação entre os homens (o dinheiro), acarretando a perda dessas relações e o ganho da liberdade com o seu restabelecimento (embora, é claro, todos os temas acima referidos estejam presentes em diferentes graus em todos os romances).

No romance Os irmãos Karamázovi, testamento de Dostoiévski, o tema principal é a descida do Espírito Santo sobre os homens. Como escreve o teólogo russo V. N. Losski, a causa de Cristo está voltada para a natureza humana em seu todo, a causa do Espírito Santo, para cada pessoa humana em separado, ressaltando-a "pela marca da relação pessoal e singular com a 'Santíssima Trindade' isto é, revelando ao homem a verdade e permitindo-lhe entender que 'a vida é o paraíso'  ", como diz o stáertz Zossíma. Essa trajetória é percorrida no romance pelas personagens Márkel, Zossíma, o visitante mistérioso, Dimitri, Ivan (em perspectiva) e, é claro, Aliócha. Segundo o plano de Dostoiévski, eram precisamente a trajetória e o exemplo de Aliócha que deviam tornar-se o ponto de referência para todas as futuras gerações de leitores em sua vida autêntica durante a leitura do romance. É precisamente assim mesmo que eu compreendo a afirmação peremptória da modalidade de tempo -- o "momento presente" --, que no prefácio ao romance Dostoiévski endereça ao leitor concreto:
O romance principal é o segundo: a atividade de meu herói já em nosso tempo, precisamente no tempo corrente de nossos dias.

#

Sobre Karen Stepanyan

vice presidente da Sociedade Russa de estudos de Dostoiévski, redator-chefe da revista-almanaque Dostoiévski i mirovaia kultura (Dostoiévski e a cultura mundial), representante da Rússia na International Dostoievski Society (ISD) , membro da União de Escritores da Rússia, professor do Instituto de Literatura Univeral e colaborador da revista Znâmia.  

1.12.11

andrei rublev, trindade. feliz natal.

28.11.11

parlez-vous français?

DIRETORA DO MUSEU RODIN DE PARIS VISITA SALVADOR E  FAZ PALESTRA SOBRE GESTÃO MUSEOLÓGICA NO PALACETE DAS ARTES

Na próxima quarta-feira, dia 30 às 17h a Diretora do Museu Rodin de Paris, Aline Magnien que chega pela manhã em Salvador, participará de debate com os professores José Antonio Saja e Heloísa Helena Costa na Sala de Arte Contemporânea do Palacete das Artes Rodin Bahia sobre as questões do Mito e a influência da Antiguidade Clássica no processo criativo de Rodin.

No dia 1 de dezembro ( quinta-feira ) das 9h às 12h ela fará uma visita técnica ao acervo do Palacete das Artes Rodin Bahia  e às 17h faz palestra para o público sobre “ Gestão Museólogica no Museu Rodin Paris , na Sala de Arte Contemporânea do Palacete.

 A entrada é franca para as duas atividades.

16.11.11

o mesmo aceno e de outra forma (aceno a siena)


Catarina de siena desconhecia as letras
Catarina de siena escrevia para seu papa
(ditava)
Catarina de siena não confudia hóstia sem a presença do DEUS
que ela amava
.
ela sabia onde deus estava e
onde Deus não estava

24.10.11

All my dreams fulfilled...

22.10.11

trecho da introdução ao livro do profeta baruc (bíblia teb) + 2 passagens desse profeta de notável gênio.

>
"Você já leu Baruc? Era um gênio notável!" (La Fontaine, segundo Louis Racine). Foi na Vulgata que La Fontane leu Baruc, por ocasião de um ofício de trevas ao qual Jean Racine o havia levado. Não podendo deixar de admirá-lo, La Fontaine perguntou ao amigo: "Notável gênio esse Baruc: quem era ele?"

#

"Direis:
Ao Senhor nosso Deus pertence a justiça, mas a nós, a vergonha no rosto, como hoje se vê! A vergonha para o homem de Judá e os habitantes de Jerusalém, para nossos reis, nossos chefes, nossos sacerdotes, nossos profetas e nossos pais. "  Br 1, 15-16

e

"Onde estão os que se divertem com
os pássaros do céu,
os que põem em reserva a prata e o
ouro,
nos quais os homens puseram sua
confiança,
eles, cuja fortuna não tem limites?
Onde estão os que lavram a prata e
fazem dela o objeto de seu cuidado,
eles, cujas obras superam a
imaginação?"  Br 3, 15-18

19.10.11

Essa coisa de lascar pedras... e a faísca... a fumaça na usina entre as palavras.... é primavera e não há Sol.... sem Adma ou museu ou um filme do Bergman..

-
nada
ainda
se
diz

o que soa
volteia
irresol
vível

algaravia
conversa
desconexa
na treva

riscamos
no chão
incerto
signo

5.10.11


salomão que me perdoe (ecl 1,9) mas alguma coisa aconteceu (e está acontecendo: se você está em salvador visite o mam) na capela que antes era propriedade beneditina (como quase tudo que está nessa cidade de algum modo pertence aos beneditinos: se você conhece um pouco de história sabe disso) com a exposição dessa tal de beatriz franco.

 "sob o mesmo céu" é um recorte de algo muito vasto e também muito particular a todos nós. essa instalação e exposição fotográfica é uma provocação à diversidade pela maneira da poesia que está na imagem, fanopéia, como no dizer do ezra pound.

debaixo do céu há o humano e acima dele o que não cabe na fala, na escrita, no logos.

o problema  é que salomão se limitou a delimitar a existência das coisas debaixo do sol e sob a noite de beatriz um universo se abre e se re-vela pela maneira da beleza: abrindo espaço para o advento da arte que ousa dizer o outro e dizer o mesmo.

e é nessa ousadia do outro e do mesmo que alguma coisa (pelo modo da fricção) ocorre. a fotografia no olhar de beatriz franco revela uma verdade muito antiga: a beleza do sagrado no céu que está aí para tudo o que sob ele se movimenta.

no caderninho onde se dá ler alguma coisa sobre a exposição a própria beatriz reafirma o mistério da imagem e coloca (problematizando) a questão da origem lançando luz no velho desafio do começo de tudo com o seu recorte do céu-poesia e igualmente céu-mistério.

o sujeito que se dirige até a capela do mam é convidado a desvendar essa exposição escura sob o céu da beatriz. a fotografia do céu é posta no teto da capela-museu e no chão da entrada deste mesmo lugar está a provocação a todos que se permitem a esse momento de rara e deliciosa fruição: "estamos todos  sob o mesmo céu".

assim sendo, acolhamos o convite para igualdade da nossa origem divina debaixo do céu de beatriz franco.

30.9.11

Carta de Eça de Queiroz ( Á Senhora Condessa de Ficalho), Londres, 21 de Outubro 1885.

__Tenho sido ultimamente tão abandonado pelos meus amigos de Lisboa -- ou pelo menos d'aquelle bairro de Lisboa onde eu mais desejo ter amigos -- que, se possuisse uma canoa e um papagaio, podia considerar-me realmente como um Robinson Crusoè, desamparado na sua ilha. Há, é verdade, em roda de mim, uns quatro ou cinco milhões de sêres humanos. Mas que é isso? As pessoas que nos não interessam e que se não interessam por nós são apenas uma outra fórma da paisagem, um mero arvoredo um pouco mais agitado. São, verdadeiramente, como as ondas do mar, que crescem e morrem, sem que se tornem differenciaveis umas das outras, sem que nenhuma attraia mais particularmente a  nossa sympathia emquanto rola, sem que nenhuma, ao desapparecer, nos deixe uma mais especial recordação. Ora estas ondas, com o seu tumulto, não faltavam de certo em torno do rochedo de Robison -- e elle continua a ser, nos collegios  e nos conventos, o modelo lamentavel e classico da solidão.

__Não sei se este abandono provém da inhabilidade que os meus amigos têm de continuar por muito tempo as suas sympathias -- se da incapacidade que eu tenho de reter por muito tempo as sympathias dos meus amigos. Seja como fôr, o facto permanece -- e eu aqui me tenho achado, minha cara snr.ª Condessa, esquecido no meu rochedo, sem canoa e sem papagaio!

__Ora que póde um homem fazer, em cima d'um rochedo -- senão reflectir? E assim me tenho entregado, exclusivamente, a essa sombria occupação...

__Reflecti que o mundo e a gente que compõe, à maneira que a civilisação vae sendo mais complicada e mais encombrante, se vão tornando mais duramente egoistas; e se outr'ora, no movimento mais calmo da vida, era possível formarem-se relações e grupos de relações, ligadas por uma interessante communhão de gostos e d'iéas, onde o espirito e o coração encontrassem tudo o que necessitam para viver -- hoje, n'esta acceleração da existencia, não há tempo, nem vagar, nem dedicação bastante para que esses grupos se formem, com sufficiente encanto, ou, apenas formados, logo se desmancham, e cada um, na debandada que nos leva, tem de contar simplismente comsigo mesmo -- e com o seu cão...

__Reflecti ainda que a Vida Exterior ia, com estes annos andados, perdendo para mim todos os attractivos. Viajar é (como a snr.ª Condessa sabe e sei que sente) deixar um sitio onde se estava comendo, num hotel triste, um boeuf-à-la-mode triste, para ir através da poeira, confusão e bagagem, comer, n'outro hotel mais triste, outro boeuf-à-la-mode mais triste; e as igrejas, as lojas, os homens, sendo por toda a parte eguaes, não vale a pena partir para ir apenas, e em definitiva, sentir a melancolia infinita que inspiram as multidões estranhas.

__Posta de lado as viagens -- restava-me talvez isso a que se chama a Sociedade; mas ella, já agora, realmente pouca occupação me poderia offerecer: pessimamente educado, não sabendo jogar o whist nem valsar, não me sendo já facil flirtar, porque o espirito vae perdendo a sua ligeireza e a sua bravura, eu via approximar-se o momento em que teria de enfileirar n'essa classe de solteirões, majores reformados do sentimento, que se encostam nas salas ás humbreiras das portas, a confiar o bigode, com a sua melancolia e o seu chaque, ambos debaixo do braço.

__Que me restava ainda da vida exterior? A acção? Mas nós vivemos n'um paiz tão monotono que nem n'elle se conspira: e mesmo talvez não valesse a pena mandar fazer uma capa negra e reunir-me com alguns sujeitos de barbas, n'um subterraneo, para tramar em voz cava a destruição da Carta e do Gremio! Que mais, então? A minha modestia nunca se acostumaria a tão grande éclat, além de que os regulamentos da policia são muito severos com os prophetas. Procurar ser ministro? A minha vaidade nunca me permittiria descer a tanto.

__Reflecti ainda que nem mesmo os meus companheiros de mocidade -- porque todos, pouco a pouco, tinham creado o seu ninho e viviam fechados dentro d'elle.  Acontecia-me, ultimamente, indo pela rua, mergulhado na gola do meu paletot, encontrar um d'esses amigos e pedir-lhe, como uma obra de caridade, que viesse jantar comigo ao restaurante: e o meu amigo, tendo-me olhado com olhos chammejantes e indignados, como se eu lhe propuzesse uma infamia, voltava bruscamente as costas, e abalava a correr para o insubstituivel conforto da sua sopa de familia... Eu, noentanto, lá seguia, solitario, para o restaurante, onde, invariavelmente, o garçon, atirando o guardanapo para baixo do braço, me dizia com um sorriso abominavel e diabolico -- << Nous avons aujourd'hui, monsieur, un boeuf-à-lamode qui est exquis!...>>

__Finalmente, reflecti que não restava senão a minha Arte. Mas, como tão profundamente se diz nos livros de cozinha -- pour faire un civet de lièvre il faut d'abord un lièvre, et puis une casserole. Ora para fazer tranquillamente Arte -- é necessario pelo menos uma mesa e um fogão, e depois ainda outra mesa, pour mettre dessus le potage. De que vale porém ter estes utensilios de trabalho -- se se não tem, ao mesmo tempo, essa suave e amigacompanhia, sem a qual o fogão, por mais carvão que se lhe deite, nunca dá calor, e a mesa, por mais luzes que se accendam em torno da sopa, parece sempre sombria?

__Nada pois me restava a não ser a solidão...
__Estava eu assim reflectindo no meu rochedo, e reflectindo alto, n'um monologo, como é costume dos que fazem romances -- quando aconteceu que uma pessoa, de todo o ponto excellente e cheia de caridade, ouviu os meus queixumes...
-- E assim é que eu posso agora, senhora Condessa, annunciar-lhe o ajuste do meu casamento, com a filha da senhora Condessa de rezende, D. Emilia de Castro.

__Depois d'isto, eu não devia talvez acrescentar mais nada. Mas, antes de concluir este in-folio, não resisto á tentação de lhe pedir, minha carasenhora Condessa, que permitta aos seus bons desejos que me acompanhem n'esta nova existencia: elles teriam para mim um duplo valor: vindo d'uma pessoa tão superiormente dotada pelo espirito e pelo coração, elles não deixariam de me porter bonheur. E depois, provar-me-iam a mim mesmo que eu não sou inteiramente incapaz de reter por muito tempo a sympathia dos meus amigos.

__ Creia-me, snrª Condessa, et nunc et semper, com todo respeito

__De V.Ex.ª muito agradecido e muito dedicado

Eça de Queiroz.

29.9.11

Camões e a arte de destilar doçuras...

O recado que trazem é de amigos,
Mas debaixo o veneno vem coberto;
Que os pensamentos eram de inimigos,
Segundo foi o engano descoberto.
Ó grandes e gravíssimos perigos!
Ó caminho de vida nunca certo:
Que aonde a gente põe sua esperança,
Tenha a vida tão pouca segurança!

No mar tanta tomenta, e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida!
Onde pode acolher-se um franco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme, e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?

31.8.11

TER o tempo nas costas e 
TER o tempo.
TER a vida e 
o tempo
o tempo para vida e 
o tempo pára a vida,
ter a espera nas costas
para que ela viva
(viva na memória)
ter a espera dela
e nela um moinho

casa e moinho:
moinho ou
tempo nas coisas.

27.8.11

rilke, antes



22.8.11

Soneto Já Antigo

Olha, Daisy: quando eu morrer tu hás de
dizer aos meus amigos aí de Londres,
embora não o sintas, que tu escondes
a grande dor da minha morte. Irás de

Londres p'ra Iorque, onde nasceste (dizes...
que eu nada que tu digas acredito),
contar àquele pobre rapazito
que me deu tantas horas tão felizes,

Embora não o saibas, que morri...
mesmo ele, a quem eu tanto julguei amar,
nada se importará... Depois vai dar

a notícia a essa estranha Cecily
que acreditava que eu seria grande...
Raios partam a vida e quem lá ande!

21.8.11

o capitalismo é outro humanismo, a crise econômica é outro humanismo.


15.8.11

contra-corrente.

para dizer
o modo
exato
de como
seguir
aquilo
ou
pelo modo
de ser o
mote
que a palavra
diz
(o que é)
então
ela
reporta
ela
mes-
ma
dita
ou a di-
ta
palavra
no mov
mento de
entra-da
e toda
iden-
tica
na saí-
da.

11.8.11

Argumento em Duns Scotus (Opus Oxoniense IV, d. 43, q. 2) sobre a felicidade, sobre a imortalidade também.

"Ademais, é conhecido naturalmente que uma espécie inteira não é carente de seu fim. Pelo menos este é atingido em algum indivíduo. Ora, é conhecido naturalmente que a felicidade é o fim da espécie humana. Portanto, é também conhecido naturalmente que o homem pode consegui-la pelo menos em algum indivíduo. Ora, não pode consegui-la nesta vida por causa de múltiplas misérias que a acompanham, tais como as vicissitudes da fortuna, a fraqueza do corpo, a imperfeição do saber e da virtude, a instabilidade e fadiga no exercicio do ato de perfeição.  De tal maneira que nenhuma operação, por mais que seja agradável no início, pode ser sempre agradável. Até mesmo, se ela se torna fastidiosa, será agrádavel cessá-la. Ora, é conhecido pela razão natural que a operação que torna o homem feliz não é desagradável nem pode ser possuída apenas pela alma separada do corpo, pois em tal caso o homem não atingiria o seu fim. Portanto, será possuída noutra vida e pelo todo conjunto de corpo e alma. Parece, por conseguinte, que pela razão natural se conclui, pelo menos, em que coisas o homem alcança o seu fim."

9.8.11

+ 1 poema c/ lrp,. da cidade. sobre a cidade.

#

a cidade é um dia de chuva
me ocorre o refúgio dos parapeitos
me ocorre a chuva e a cidade, me ocorre

um verão menor a sobrevir
vir o sol e o dia, vir

ameno, à boca de boas novas,
a cidade é um dia de contas:


é amorfo o calendário das mudanças,
é um rio a cidade ou um dia de chuva.

6.8.11

cantar caymmi. cantar a vida. cantar o mar.

3.8.11

A Carta, Mario Quintana

Hoje encontrei dentro de um livro uma velha carta amarelecida,
Rasguei-a sem procurar ao menos saber de quem seria...

Eu tenho um medo
Horrível
A essas marés montantes do passado,
Com suas quilhas afundadas, com
Meus sucessivos cadáveres amarrados aos mastros e gáveas...

Ai de mim,
Ai de ti, ó velho mar profundo,
Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios!

31.7.11

way to go o círculo!


durante o banho eu pensava passar num mercado para levar refrigerantes ou cerveja ou um salgadinho para ver o show do círculo. é que acho tudo muito caro nesses lugares. ir ver o círculo não quer dizer necessariamente entrar para o círculo de gastadores. durante o show precisei administrar uma porção de odores. fumaças que mudavam de textura quando a policia passava: indo do mais natural ao mais industrializado (eu observava os espectadores). 

poucas vezes na vida eu tive aquela sensação de estar empurrando minha visão de mundo para outro lugar diferente: alargando assim aquilo que eu acreditava para o mesmo e para outro. a banda o círculo me pareceu bastante religiosa na medida em que uma banda de rock pode ser assim desejada. tal qual santa teresa d'ávila na sua erótica do sagrado nos amplia o ver o mundo empurrando nossas opiniões para outro lugar a banda de rock do concerto no parque da cidade perto da minha casa empurrou meu ver as coisas para muitas outros territórios, inclusive o sagrado, o místico.

o mundo é um círculo e o show era cheio de círculos: um rapaz com uma mochila onde se dava ler pearl jam segurava o dvd do david bowie nas mãos e comentava com os seus algo sobre beleza e qualidade. o rapaz que esbarrou em mim disse que avó dele cantava melhor. era um homem mais velho e pegava latas de cerveja. outros cantavam e falavam de amor e as fumaças seguiam sem nada reclamar. de minha parte tudo pareceu me acenar para a diversidade. um circulo nunca é diverso, é tautológico. esse circulo pareceu me cheio de outros que me remetiam a outros que por sua vez não se satisfaziam com os mesmos dando sempre e mais para outros e outros e outros. ir até o círculo.

26.7.11

Anotações, 1942-1948.

#

Dormir ou sonhar, dizeis, e por sonhar, meu príncipe, entendeis sem dúvida mais ou menos o equivalente a viver. Mas se é dormir, é justo que repouseis após tantas insônias no terraço de Elsinor. Em caso de sonhar, porque temeis os sonhos, vós que temeis tão pouco os fantamas?

Marguerite Yourcenar, Peregrina e Estrageira

16.7.11

26.6.11

1985

e tulipas líricas em 1985
e dizer que estava enlouquecendo desde ontem
ou levitar com o som da voz da amada
quando ela dizia o nome das flores que gostava
para depois os nomes que não.

subir as escadas sem ar
sem ar deixar a moça após o amor
chegar ao clímax da casa e do gozo
do alto a visão das tulipas de 1985
na cama ela desconsertada.

24.6.11

anatômico, e


"...Doravante, quando o homem estremece na alienação e o
mundo o angustia, ele levanta o olhar (para a direita ou
para esquerda, pouco importa) e avista uma imagem... "
Martin Buber, Eu e Tu

Da garganta
_________ao estômago e
até a língua até as pálpebras
lá: na laringe
__da planta nos pés à porta,
chaga - calota - o Nome
orante da minha infância
sonhos de ver Cultura
de ver avanço;
______Sonho no estômago
das entranhas,
joelhos e
o verso esquecido na Esperança
e o que a mão apalpa,
fluído.

18.6.11

3.6.11

26

#
tenho 26 anos agora
tenho meu poema e minha idade
nela escrevi um lema com letras largas:
o número é importante
e a vida também

2.6.11

Do modo como não se quer a bondade


Y com sua enorme inteligência compreensiva, dedicando-se a não ser humana, no sentido em que ser humana é também ter violências e defeitos. Dedica-se a compreender perdoando os outros. Aquele coração está vazio de mim porque precisa que eu seja admirável. Todos recorrem a ela quando estão com algum conflito e ela, "a consoladora oficial", entende. Minha grande altivez: preciso ser achada na rua.

Clarice Lispector, A Descoberta do Mundo, 14 de junho, 1969.

28.5.11

Khliebnikov ou a prefiguração da escultura sonora.

Eu vi
Um vivo
Sol
Ou tom no
Outono
Só no
Sono
Azul.
Enquanto
Do canto
Dos teus calcanhares
Calcas os ares
Para o novelo
Da nebulosa,
Teu cotovelo
Em ângulo alvo
Alteando aos lábios.
Abril,
Abrir
A voz
As provas
De
Deus.
Consonha
Em vôo
Aberto
O abeto,
Colhe os
Olhos
Azuis
Com os laços
Das sobrancelhas
E dos pássaros
Cerúleos.
No anil
Há mil.


1919


Tradução de Augusto de Campos e Boris Schnaiderman

21.5.11

2

repara teu corpo,
tramas de 1 bilhão de hiatos,
diz

é como a bola que a neve lança
é como neve daquela lança

daquela época
daquele infante

repara a dança
repara e canta:

lança teu corpo daquela ponte
diz o teu nome em

tom e

quando cola da neve
cola na lança

o teu corpo
naquela banda

do mundo

repara a dança enquanto diz
a bola a neve
repara a sombra
que deixa bem leve

encanta encanta encanta

repara a prece homem
homem

repara a idade daquela era
lança teu corpo daquela prancha

mergulha, desce, afunda
repara o verso que disse o cego

repara o eco daquele velho
repara o mapa o catalogo

check in

repara. repara.

28.4.11

O mar é meu, creiam.     ---------------- o mar é meu, creiam.
É seu o mar,  ------  é seu o mar,
dele o mar é   --------------------  dele o mar é 
como o mar --------- como o mar
que era seu                                                     que era seu
e é dele ------------------------------------------ e é dele
o mar é quanto    o mar é quanto 
------------------------------o mar pertença  o mar pertença
ao dia ao dia ao dia  ao dia ao dia ao dia   ao dia ao dia ao dia 
o mar é meu. -----  o mar é meu.  -------------- o mar é meu.

18.4.11

Tempo da pedra dispor-se a florescer...... É tempo do tempo ser.. É tempo.

#

3.4.11

25.3.11

>>>

25.2.11

aceno a siena

catarina de siena desconhecia as letras
catarina de siena escrevia para seu papa
(ditava)
catarina de siena não confudia hóstia sem a presença do DEUS
que ela amava

ela sabia onde deus estava e
onde Deus não estava

19.1.11

.
.
.
.
.
.
.
porque eu eu não sei até onde me leva a palavra até onde o poema me leva até onde o sentido o signo o verbo a fala a letra é por isso que escrevo poque eu não sei eu não sei eu não sei não se
.
.
.
.
.
.
.

8.1.11

coltrane, coltrane.