5.10.11


salomão que me perdoe (ecl 1,9) mas alguma coisa aconteceu (e está acontecendo: se você está em salvador visite o mam) na capela que antes era propriedade beneditina (como quase tudo que está nessa cidade de algum modo pertence aos beneditinos: se você conhece um pouco de história sabe disso) com a exposição dessa tal de beatriz franco.

 "sob o mesmo céu" é um recorte de algo muito vasto e também muito particular a todos nós. essa instalação e exposição fotográfica é uma provocação à diversidade pela maneira da poesia que está na imagem, fanopéia, como no dizer do ezra pound.

debaixo do céu há o humano e acima dele o que não cabe na fala, na escrita, no logos.

o problema  é que salomão se limitou a delimitar a existência das coisas debaixo do sol e sob a noite de beatriz um universo se abre e se re-vela pela maneira da beleza: abrindo espaço para o advento da arte que ousa dizer o outro e dizer o mesmo.

e é nessa ousadia do outro e do mesmo que alguma coisa (pelo modo da fricção) ocorre. a fotografia no olhar de beatriz franco revela uma verdade muito antiga: a beleza do sagrado no céu que está aí para tudo o que sob ele se movimenta.

no caderninho onde se dá ler alguma coisa sobre a exposição a própria beatriz reafirma o mistério da imagem e coloca (problematizando) a questão da origem lançando luz no velho desafio do começo de tudo com o seu recorte do céu-poesia e igualmente céu-mistério.

o sujeito que se dirige até a capela do mam é convidado a desvendar essa exposição escura sob o céu da beatriz. a fotografia do céu é posta no teto da capela-museu e no chão da entrada deste mesmo lugar está a provocação a todos que se permitem a esse momento de rara e deliciosa fruição: "estamos todos  sob o mesmo céu".

assim sendo, acolhamos o convite para igualdade da nossa origem divina debaixo do céu de beatriz franco.

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