21.10.13

Федор Достоевский, Братья Карамазовы, Книга третья. Сладострастники, III Исповедь горячего сердца. В стихах.



Душу божьего творенья 
Радость вечная поит, 
Тайной силою броженья 
Кубок жизни пламенит; 
Травку выманила к свету, 
В солнцы хаос развила 
И в пространствах, звездочету 
Неподвластных, разлила.
У груди благой природы 
Всё, что дышит, радость пьет; 
Все созданья, все народы 
За собой она влечет; 
Нам друзей дала в несчастье, 
Гроздий сок, венки харит, 
Насекомым — сладострастье... 
Ангел — богу предстоит.

Но довольно стихов! Я пролил слезы, и ты дай мне поплакать. Пусть это будет глупость, над которою все будут смеяться, но ты нет. Вот и у тебя глазенки горят. Довольно стихов. Я тебе хочу сказать теперь о «насекомых», вот о тех, которых бог одарил сладострастьем:

Насекомым — сладострастье!

Я, брат, это самое насекомое и есть, и это обо мне специально и сказано. И мы все, Карамазовы, такие же, и в тебе, ангеле, это насекомое живет и в крови твоей бури родит. Это — бури, потому что сладострастье буря, больше бури! Красота — это страшная и ужасная вещь! Страшная, потому что неопределимая, а определить нельзя потому, что бог задал одни загадки. Тут берега сходятся, тут все противоречия вместе живут. Я, брат, очень необразован, но я много об этом думал. Страшно много тайн! Слишком много загадок угнетают на земле человека. Разгадывай как знаешь и вылезай сух из воды. Красота! Перенести я притом не могу, что иной, высший даже сердцем человек и с умом высоким, начинает с идеала Мадонны, а кончает идеалом содомским. Еще страшнее, кто уже с идеалом содомским в душе не отрицает и идеала Мадонны, и горит от него сердце его и воистину, воистину горит, как и в юные беспорочные годы. Нет, широк человек, слишком даже широк, я бы сузил. Черт знает что такое даже, вот что! Что уму представляется позором, то сердцу сплошь красотой. В содоме ли красота? Верь, что в содоме-то она и сидит для огромного большинства людей, — знал ты эту тайну иль нет? Ужасно то, что красота есть не только страшная, но и таинственная вещь. Тут дьявол с богом борется, а поле битвы — сердца людей. А впрочем, что у кого болит, тот о том и говорит. Слушай, теперь к самому делу.

18.9.13

Evocar Jean-Luc Godard




Une femme est une femme, 1961 



Éloge de l'amour, 2001

25.8.13

Tomas Tranströmer, Tomas Tranströmer: Tomas Tranströmer.

TILL VÄNNER BAKOM EN GRÄNS (ur STIGAR, 1973 )

I
Jag skrev så kargt till er. Men det jag inte fick skriva svällde och svällde som ett gammaldags luftskepp och gled bort till sist genom natthimlen.

II

Nu är brevet hos censorn. Han tänder sin lampa. I skenet flyger mina ord upp som apor på ett galler ruskar till, blir still, och visar tänderna!

III

Läs mellan raderna. Vi ska träffas om 200 år då mikrofonerna i hotellets väggar är glömda och äntligen får sova, bli ortoceratiter. 



SKISS I OKTOBER (ur STIGAR, 1973)

Bogserbåten är fräknig av rost. Vad gör den här så långt 
                                      inne i landet? 
Den är en tung, slocknad lampa i kylan. 
Men träden har vilda färger. Signaler till andra stranden! 
Som on några ville bli hämtade.

På väg hem ser jag bläcksvamparna skjuta upp genom 
                                    gräsmattan.
 De är de hjälpsökande fingrarna på en 
som snyftat länge för sig själv i mörkret där ner.
 Vi är jordens.

C-DUR (DEN HALVFÄRDIGA HIMLEN, 1962)

När han kom ner på gatan efter kärleksmötet
virvlade snö i luften.
Vintern had kommit
medan de lå hos varann.
Natten lyste vit.
Han gick fort av glädje.
Hela staden sluttade.
Förbipasserande leenden – 
alla log bakom uppfällda kragar.
Det var fritt!
Och alla frågetecken började sjunga om Guds tillvaro. 
Så tickte han.

En musik gjorde sig lös 
och gick i yrande snö 
me långa steg.
Allting på vandring mot ton C.
En darrande kompass riktad mot C. 
En time ovanför plågorna. 
Det var lätt! 
Allt log bakom uppfällda kragar.

27.7.13

praça palestina


da palestina ouvíamos
a rádio
mais popular
e a música mais popular
no bairro
onde o bombardeio
interrompia
o recreio
o lazer dos mais velhos 
na praça a jogar xadrez
e moças fingindo-se 
de inocentes
estarão em outra praça
próxima a rapazes 
a fingirem-se de inocentes
até o último estalo
o penúltimo estrondo

16.6.13




"You say I am repeating

17.5.13

De como combater (todo forma) de escravidão com Poesia.






2.5.13

"...que invade, arde, queima / encoraja..."








17.4.13

o real interesse de olga belov por guimarães rosa nos rendeu a sua complexa tese de doutorado: problemas de (in)traduzibilidade em a hora e a vez de augusto matraga, de joão guimarães rosa nas versões de língua inglesa e russa (2008), a quem a editora da ACB chamou de a força da tradução, num titulo pomposa e que de modo algum traí a questão do texto do estudo, todavia atrai nossa curiosidade, como isso se desenrola?

a citação inicial do trabalho é do francês jacques derrida:

"dentro dos limites em que é possível, em que elo menos parece possível, a tradução pratica a diferença entre significado e significante. mas, se esta diferença nunca é pura, a tradução também não o é, e temos de substituir a noção de tradução por uma noção de transformação: transformação regulada de uma língua por outras, de um texto por outro"

na frase do pensador citado a noção de tradução assume claramente caráter de alteridade. para uma noção de alteridade o outro é diferente do mesmo porque tem suas peculiaridades e particularidades, a língua a saber, como no exemplo em questão. 

o trabalho de olga belov usa duas expressões chaves: texto de língua de chegada e texto de língua de partida: as tais siglas tlc e tcp. em outras palavras:  dizer algo em outra língua re-configura (desfigura?)  a forma, traduttore traditore
.
olga belov discute amplamente aquilo que pode ser compreendido como a tradução que assume carater de transformação: de outra forma: olga belov dialoga com a frase do pensador citada acima de maneira brilhante e o faz em mais de 400 páginas.
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uma citação
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MATRAGA NÃO É MATRAGA, não é nada. Matraga é Esteves. Augusto Esteves, filho do Coronel Afonsão Esteves, das Pindaíbas e do Saco-da-Embira. Ou Nhô Augusto -- o homem -- nessa noitinha de novena, num leilão de atrás da igreja, no arraial da Virgem Nossa Senhora das Dores, do Córrego do Murici.
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Na versão de língua inglesa lê-se:
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MATRAGA IS NOT MATRAGA,  or anything. Matraga is Êsteves. Augusto Êsteves, te son of Coronel Afonsão, of Pindaíbas and Saco-da-Embira. Or Mr. Augusto, Nhô Augusto -- the man -- on the everning of a novena, at the auction behind the church in the vilage of Our-Lady-of -Sorrows-of-the Creek-Muricí
.
(...)
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Na versão russa, por sua vez, lê-se:
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Matraga -- nikakói on nié Matraga, nitchevó pokhójevo, Matraga -- on Esteves. Augusto Esteves, sýn polkójevo Estévessa, Bolchóvo Alfonso, u kotórovo pomiêstia v pindaíbas i v Saki-da-Embira. Libo Nhô Augusto -- kak zváli ievó v tu notch na autsióne, kotóry prokhodíl na zádniem dvrié za tsékoviu Bogomáteri Skorbiáschei, gdié tól'ko chto otslujýli deviatíny, a býlo éto v mestêtchke Corrego-de-Murici.
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como retroversão, teremos:
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Matraga - ele não nenhum, nada disso, Matraga -- ele é Esteves. Augusto Esteves, filho do coronel Esteves, O Grande Afonso, que possui propriedades rurais em pindaíbas e no Saco-de-Embira. Ou Nhô Augusto - como o chamavam naquela noite no leilão, que se realizava no patio atrás da igreja de mãe-de-Deus Dolorosa, onde acabaram de celebrar as novenas, e isto ocorreu no lugarejo do Córrego-do-Murici.
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(...)
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lugar comum
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>  nenhuma língua é universal porque nenhuma língua é uma equação matemática: o que o  autor pode dizer de universal  (ideia)  jamais será dito do modo como deveria ser dito. do modo como foi dito (forma). 
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> se língua alguma é universal, nenhum povo  é superior: cultura alguma é superior.
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>  verter guimarães rosa para o português é ao seu turno uma tarefa complicada. a língua de guimãraes rosa é outra e dizer isso é um lugar comum.
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> a região é tão universal quando o universo.

14.4.13

Make-strong old dreams lest this our world lose heart.



Xenia

And
Unto thine eyes my heart
Sendeth old dreams of the spring-time,
Yea of wood-ways my rime
Found thee and flowers in and of all streams
That sang low burthen, and of roses,
That lost their dew-bowed petals for the dreams
We scattered o'er them passing by.
  
Search

I have heard a wee wind searching
Through still forests for me;
I have seen a wee wind searching
O'er still sea.

Through woodlands dim have I taken my way;
And o'er silent waters night and day
Have I sought the wee wind.

28.2.13

Evocar Martin Buber

O sentido da ação não é tão evidente quando se trata da relação com o TU humano. O ato essencial que instaura aqui a imediatez, é comumente interpretado em termos de sentimentos e, por isso mesmo, desconhecido. Os sentimentos acompanham o fato metafísico e metapsíquico do amor, mas não o constituem: aliás estes sentimentos que o acompanham podem ser de várias qualidades. O sentimento de Jesus para com o pocesso é diferente do sentimento para com o discípulo-amado; mas o amor é um. Os sentimentos, nós o possuímos, o amor acontece. Os sentimentos residem no homem mais o homem habita em seu amor. Isto não é simples metáfora mas a realidade. O amor não está ligado ao EU de tal modo que o TU fosse considerado um conteúdo, um objeto: ele se realiza entre, entre o EU e o TU. Aquele que desconhece isso, e o desconhece na totalidade de seu ser, não conhece o amor, mesmo que atribua ao amor os sentimentos que vivencia, experimenta, percebe, exprime. O amor é uma força cósmica. Àquele que habita e contempla no amor, os homens se desligam do seu emaranhado confuso próprio das coisas; bons e maus, sábios e tolos, belos e feios, uns após outros, tornam-se para ele atuais, tornam-se TU, isto é, seres desprendidos, livres, únicos, ele os encontra cada um face-a-face. A exclusividade ressurge sempre de um modo maravilhoso; e então ele pode agir, ajudar, curar, educar, elevar, salvar. Amor é responsabilidade de um EU para com um TU: nisto consiste a igualdade daqueles que amam, igualdade que não pode consistir em um sentimento qualquer, igualdade que vai do menor, ao maior, ao maior do mais feliz e seguro, daquele cuja vida está encerrada na vida de um ser amado, até aquele crucificado durante sua vida na cruz do mundo por ter podido e ousado algo inacreditável: amar os homens.
Eu e Tu, Primeira Parte,  22-23

13.2.13

William Butler Yeats, William Butler Yeats



Aedh wishes for the cloths of heaven

Had I the heavens’ embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams.

9.2.13

um belvedere, um café



nunca te amei castro alves
e poetas não devem ser expulsos da república
sem a tua presença a cidade é menor
e recordo o que disse o sábio monge
sei o que é cultura e conheço a bahia
não sei o que é cultura e bahia na mesma frase
tua poesia é parte da cultura ignorada pelo monge
porque a poesia é um fenômeno da cultura
e querem confirmar o que disse o monge
te expulsando da praça que é tua
da cidade que é tua




25.1.13

Quis hic locus, quae regio, quae mundi plaga?



Marina, Eliot

What seas what shores what grey rocks and what islands
What water lapping the bow
And scent of pine and the woodthrush singing through the fog
What images return
O my daughter.

Those who sharpen the tooth of the dog, meaning
Death
Those who glitter with the glory of the hummingbird, meaning
Death
Those who sit in the sty of contentment, meaning
Death
Those who suffer the ecstasy of the animals, meaning
Death

Are become insubstantial, reduced by a wind,
A breath of pine, and the woodsong fog
By this grace dissolved in place

What is this face, less clear and clearer
The pulse in the arm, less strong and stronger—
Given or lent? more distant than stars and nearer than the eye
Whispers and small laughter between leaves and hurrying feet
Under sleep, where all the waters meet.

Bowsprit cracked with ice and paint cracked with heat.
I made this, I have forgotten
And remember.
The rigging weak and the canvas rotten
Between one June and another September.
Made this unknowing, half conscious, unknown, my own.
The garboard strake leaks, the seams need caulking.
This form, this face, this life
Living to live in a world of time beyond me; let me
Resign my life for this life, my speech for that unspoken,
The awakened, lips parted, the hope, the new ships.

What seas what shores what granite islands towards my timbers
And woodthrush calling through the fog
My daughter.