28.11.08

Voz, Augusto Frederico Schimidt

Deus apagará tua voz
Deus apagará todas as vozes
As da natureza e as do amor
As dos tristes e dos monges
As que clamam no silencio
E as que se elevam majestosas
As que choram e as que acordam os males
As feiticeiras caminharam nas ruas velhas
Os teus pés nus pisaram a areia branca da praia
Tua voz porém morrerá de súbito
O orvalho não molhará as rosas abertas
Canta agora que tua voz está viva!
Canta porque tua voz se apagará!

16.11.08


Vigilância, Mar Absoluto

A estrela que nasceu trouxe um presságio triste; 
inclinou-se o meu rosto e chorou minha fronte:
que é dos barcos do meu horizonte?

Se eu dormir, aonde irão esses errantes barcos,
dentro dos quais o destino carrega
almas de angústia demorada e cega?

E como adormecer nesta Ilha em sobressalto,
se o perigo do mar no meu sangue se agita,
e eu sou, por quem navega, a eternamente aflita?

E que Deus me dará força tão poderosa
para assim resistir toda a vida desperta
e com os deuses conter a tempestade certa?

A estrela que nasceu tinha tanta beleza
que voluntariamente a elegeu minha sorte.
Mas a beleza é o outro perfil do sofrimento,
e só merece a vida o que é senhor da morte.

3.11.08

Liz Novais

É como dizer Liz
E toda sua asperidade
Ou calar-se rumo ao cacto
que alimenta comunidades.


E não termina
E recomeça
E é como Liz,
incontida, latejante
cheia de cheiros e cachos
desamores & fracassos...
E não responde a pudores
E é Liz.
Sim, é Liz.


Excesso - forma de dados e pontos
negros,
branquissíma como neve,
& leve - naquele modo de ser sempre Palco.


Liz,
caríssimos: seus acessos de lucidez
& loucura e aridez.
Turbilhão de Cactos e Amoras.
Bode que persegue Lima Barreto
Touro que acossa Hemingway
ou Amarante: ritmo nos versos vacilantes.


E é fêmea:
É ela.