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FIM DO MUNDO
Cada tempo tem o
seu próprio e
íntimo fim
para o Mundo.
Foi assim em 1945.
Tememos mais
um conflito
nuclear:
o mais terrível
final
para o mundo
precisará ser
outro
conflito nuclear?
O que mais me lembra o Juízo
é um jardim ao meio-dia,
um jardim de rosas.
Cheirava-as como – descobri depois –
se cheira os homens,
odoroso mistério.
Um jardim caipira, o da minha casa,
140 estrelas do norte, cravinas, uma flor rosada
que desabrochava em pencas e até hoje só vi
nos canteiros dos pobres.
E rosas, rosas, rosas, o modo de minha mãe virar rainha:
‘para mim a rosa é a primeira das flores’.
Quando Deus vier,
quem nunca se permitiu a consolação das flores,
será tomado de uma ânsia de vômito;
porque o sinal será um perfume de rosas,
um perfume intensíssimo
um odor tal que transtornará o tempo
e atrairá os demônios exsudando ira.
O que mais me lembra o Juízo
é um jardim ao meio-dia,
um jardim de rosas.
Uma estrela
atrai
a luz
uma estrela
suga
o resto do
resto, o
silêncio
elide os deuses, im
plode
acaba morre
finalíssi
mamente.
No fim do Mundo melancólico
os homens lêem jornais.
Homens indiferentes a comer laranjas
que ardem como o sol.
Me deram uma maçã para lembrar
a morte. Sei que cidades telegrafam
pedindo querosene. O véu que olhei voar
caiu no deserto.
O poema final ninguém escreverá
desse mundo particular de doze horas.
Em vez de juízo final a mim me preocupa
o sonho final.